Olá pessoas!
Quem está escrevendo hoje é um disléxico assim como vocês. Meu nome é Gustavo, e descobri esse dom quando eu tinha uns treze para quatorze anos. Sempre fui uma criança elétrica que fazia piada com tudo. Bom não mudei muito, talvez o cabelo que diminuiu um pouco, mas a loucura ainda está dentro de mim hehehehe.
Quando eu estava na quinta série comecei a fazer fono, adorava as seções, a minha fonoaudióloga era muito engraçada e super alto astral. Conheci outras pessoas que fizeram algumas seções de fono e detestaram, mas particularmente eu adorei. Eu tinha problema na escrita (que era próximo de um aramaico), trocava algumas letrinhas, não me concentrava muito em algumas coisas, dificuldade em me expressar com a escrita, me embolar ao escrever um texto…..e outras coisinhas que eu n me lembro.
Os professores elogiavam o meu esforço, eu era um aluno inteligente, sempre quis saber mais sobre os assuntos. Mas o colégio percebeu algumas dificuldades que não estavam sendo eliminadas.
Passei por uma psicóloga, para ver se tinha algo mais “interferindo” no meu aprendizado. Mas não gostei muito de ficar horas e horas falando sobre mim com alguém que eu nem conheço, se pagasse um vinho antes ai a gente conversava de boa. Claro que isso seria impossível, obvio né, eu não gostava de vinho naquela época.
Bom, brincadeiras à parte, me aconselharam fazer um teste na ABD, eu ouvi a palavra teste já fiquei nervoso. Foi maçante, horas fazendo um monte de exercícios chatos, a orientadora chegou a dormir no meio de uma atividade, eu odiava. Lembro que me pediram para soletrar o alfabeto em um dos testes, me sentia tão pressionado e um pouco nervoso de parecer burro que coloquei números no meio do alfabeto.
Tudo isso para ver o porquê da minha dificuldade com certas matérias, troca das letras, redigir textos e blablabla. Eu cheguei até a pensar “já que nós como instituição de ensino não vamos admitir que falhamos…..vamos jogar para terceiros”.
Depois de vários testes, desde riscar pontinhos enfileirados até nadar com piranhas, chegou o resultado. Esperei na recepção, meus pais entraram primeiro, TENSÃO TOTAL. Meu Deus, será que fiz alguma coisa errada, será que eu sou burro demais e não vou conseguir subir na vida AAAAAAAAAAAAA……..
Isso estava ocorrendo na minha cabeça, mas estava que nem um anjinho na sala. Fui chamado, a porta estava aberta e, meu pai e minha mão junto com a orientadora, estavam sorrindo e com os olhos fixos.
Resultado, VOCÊ É DISLÉXICO!!!! Tá que troço é esse…..teve todo um blablabla de que “você é uma criança normal, não se ache burro (desculpa mas meu QI é bom tá), temos palestras e blablabala…….você pode usar calculadora na prova……O QUE!?!
Ai foi alegria total, meus ouvidos só prestaram a atenção na parte “FAZER PROVA COM CALCULADORA” chupa sociedade! Contei para os meus amigos a novidade, levei a papelada da ABD pro colégio (todo o ano eu tinha que lembrar “olha, eu sou disléxico beleza”) os professores foram avisados mais não foi grande coisa.
Resumo, depois de tudo isso, praticamente o colégio estava nem ai, alguns professores me ajudavam e outros eu tinha que correr atrás, no início eu tive um auxilio até que razoável…até que teve o dia da humilhação.
Particulamente eu estava nem ai, corri atrás de tudo como sempre, estudei como sempre, nada mudou. A diferença é que eu tinha um papel falando que eu tinha um grau super mínimo de dislexia. Mas um belo dia de recuperação de matemática, o um dos dois professores que estavam vigiando a sala para os alunos não se “ajudarem” na prova, me viu com a calculadora. Ele quis tirar minha prova, fez piada que eu estava usando calculadora, a sala toda riu….Me senti humilhado, mas a outra professora veio e me defendeu.
Depois dessa história esse professor ficou mansinho mansinho……claro eu podia reclamar dele e da escola, montar um barraco para manchar um pouco o nome da escola…só assim pra lembrarem do meu caso e do papel que ficava em um restaurante cinco estrelas para traças.
Outra coisa que eu estava esquecendo, livros…..bem eu nunca fui de ler, ninguém me incentivou, meus pais até tentaram e a escola não fazia um esfocinho…..serio, dar livros com uma linguagem arcaica para uma criança de doze anos, parabéns você acaba de me fazer querer queimar todos as bibliotecas da cidade.
Mas tudo mudou quando mamãe me traz de presente um livro sobre um menino que vai para uma escola de magia, claro que vocês já conhecem a história. Gostei, depois veio um com um dragão na capa, um outro falando de hobbits e tesouros em uma montanha. Resumindo, sempre gostei de fantasia e aventura, descobri mundos e amigos dentro dos livros, adorava entrar em um mundo novo e me sentir o protagonista da história. Hoje tenho uma estante lotada e daqui a pouco o meu quarto vai virar um forte literário.
É isso galera!
Fala Gustavo que história heim cara! Mais um pra família, uhuu!
Cara posso falar uma coisa do fundo do meu coração? Gostei muito do seu relato, mais especificamente do da forma como contou rsrsrs. Um texto envolvente parecia que eu tava “vendo” cada cena. E olha que prum disléxico falar isso é coisa rara rsrs
Minha reação foi quase igual, se não, idêntica à sua: quando veio o resultado que eu era disléxico, a psicologa falou um monte de coisa que eu não entendia nada de um jeito que eu não entendia nada e então, ela fechou a conversa com “Você é normal, nunca se ache inferior aos outros!”. Lembro que meu primeiro pensamento foi “Mulher do céu… como vou me achar inferior se eu nem consigo entender o que fosse fala?”. Até mesmo hoje quando vejo algum profissional ou até algum figurão do meio palestrando… dando entrevista na TV… etc, sinceramente acho que poderiam abolir a fala repleta de “academicismos” e se preocupar com a simplicidade da mensagem. Assim o entendimento ficaria fácil pra todo mundo, né não? (Na minha humilde opinião claro)
Com relação à ser humilhado por estar usando um direito, seu… tipo usar calculadora. Cara eu também passei por algo parecido: no primeiro colegial uma menina (que foi muito mal na prova de matemática, enquanto eu tinha tirado dez) veio pra cima de mim “Não vale Pippo! Você só vai bem porque pode usar a calculadora!”. Aí eu respondi no ato “Quem mandou você nascer ‘normal’?” (até hoje não sei de onde veio essa resposta) – depois de ouvir isso ela ficou sem fala.
Por conta do medo da humilhação vejo que muitos disléxicos não usufruem dos seus direitos, o que é um erro. Mas fiquei muito feliz em saber que isso não te abalou e continuou seguindo em frente. Você é um exemplo cara!
Falando agora do gosto pela leitura, confesso que essa é uma habilidade que eu ainda estou desenvolvendo! Quem sabe você possa ser um dos colunistas aqui do DislexClub de dar dicas para a galera… topa?
Já pensou em ter sua história no DislexClub e ainda inspirar muita gente? Se você quiser, nos conte como é sua relação coma dislexia: suas lutas, sua superação, suas vitórias ou se quiser apenas desabafar… Envie para: dislexclub@gmail.com
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Adorei os depoimentos e de uma certa forma me acalentaram um pouco. Há uma semana peguei o diagnóstico da minha filha de 9 anos. Depois de várias tentativas de psicólogas, aulas de reforço e até mudança de escola(privada para pública)vi que minha filha não progredia. Ia mal nas provas e alto estima lá no pé. Não imaginava dela ter dislexia, pois na minha ignorância achava que a dislexia impedia a pessoa a se alfabetizar, o que não aconteceu com minha filha. Hoje sei que ela encaixa em quase 100% da dislexia. O que me dói mais é que ela amaaa livros, ama ler, se empolga com os livros de seu interesse, mas se o texto for grande demais ela se perde e não entende quase nada! E ela lê e me conta com toda convicção do mundo que o que ela leu é o que tá no livro. Fico perdida…chateada e despisto o máximo pra não transparecer pra ela a minha preocupação. Tenho medo dela nunca conseguir ler um livro! E isso me dói, pq ela amaaaa desde pequena ler.Isso tudo é muito novo pra mim.
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Oiiieee Desculpe a demora pra responder! Uma dica que eu dou é que não fique tão ansiosa. SE ela gosta de livros é um BOOOOOOMM caminho andado kkkk Com o tempo ela vai se desenvolvendo. Series de livros como “Diario de um Banana” ou “capitão cueca” foram livros que me estimularam pro mundo da leitura, são livros curtos, letras grandes e muuuuuuitas figuras. #Recomendo!
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Olá,meu filho de 7 anos acabou de ser diagnosticado com dislexia e TDAH,nós tivemos muitos problemas na escola,segundo a Neuropsicóloga ele tem um QI normal e sem os auxílios que ele tem direito,qdo ele tiver acesso aos direitos dele na escola as notas de B melhorarao mais ainda.João aprendeu a ler a pouco tempo,ninguém sabe explicar como ele conseguiu,apenas que ele achou uma forma sozinho de superar suas dificuldades.A escrita ainda é complicado,a interpretação de texto,os problemas de matemática,ainda dão muito Trabalho mas tenho certeza que meu filho superará todas as dificuldades!Nos optamos por não dizer a ele sobre nada disso, pra ele Toda criança é assim,não sei se estamos fazendo certo mas ele é muito pequeno pra entender tudo isso.
Na escola isso é um problema,eles dizem que não tem Direito a atenção especial.