A principal pergunta que ouço dos pais é “Meu Filho é Disléxico. E Agora?”, muitas vezes desesperados, pedindo ajuda para seus filhos que acabaram de receber o laudo de Dislexia do Desenvolvimento.
Arrasados, pensam que eles não conseguirão aprender a ler e a escrever, passarão por muitas humilhações, não conseguirão cursar uma faculdade entre tantos outros pensamentos pessimistas e constrangedores. “Mas se meu filho é Disléxico, ele terá uma vida normal?” Embora todo trabalho honesto seja digno, cheguei a ouvir de um pai “Meu Deus, eu não quero ver meu filho vendendo coco na praia. Não foi isso que sonhei para ele!”
Mal sabem os pais que a criança com o transtorno, se diagnosticada em idade tenra e trabalhada com intervenções multidisciplinares adequadas, terá vida acadêmica normal graças à organização, dedicação e disciplina nos estudos além do amparo legal através do cumprimento dos direitos e benefícios cabíveis, conforme consta em nossa legislação atual. Isso não significa dizer que a criança deixará de apresentar a Dislexia, mas terá grandes ganhos e uma melhora significativa nos prognósticos do transtorno.
Neste artigo, procuro evidenciar a importância da participação dos pais no desenvolvimento de seus filhos e comentar sobre a metodologia para alfabetização, intervenção e reabilitação de leitura e escrita que vem apresentando resultados positivos nas terapias psicopedagógicas com pacientes disléxicos. Essa metodologia também pode ser utilizada em casa por aqueles que desejam muito contribuir para o avanço no processo de ensino-aprendizagem dessas crianças e adolescentes.
Vale a Pena Ler de novo!
No meu artigo “Os desafios de ser Disléxico em ambiente escolar”, publicado em novembro do ano passado, refletimos um pouco sobre o dia a dia do aluno disléxico e constatamos que ele precisa enfrentar vários obstáculos e superar muitas barreiras que ainda permeiam esse espaço que deveria ser de acolhimento e de respeito à neurodiversidade e acaba, muitas vezes, sendo um palco de cenas intensas de estresse, bullying, baixas autoestima e autoconfiança e cujo protagonista, infelizmente, é o disléxico.
Em seguida, em dezembro, abordamos no artigo “Questões importantes sobre o Diagnóstico da Dislexia”, a triste realidade vivida por muitos pais de alunos disléxicos os quais não conseguem ter o laudo de seus filhos concluído devido à grande demanda nos serviços públicos e aos altos custos nos particulares. Como consequência, um tempo muito precioso que poderia ser utilizado na intervenção do transtorno é perdido gerando problemas secundários como baixa assiduidade, evasão escolar, ansiedade, depressão entre outros.
A pergunta é: mas e depois de fechado o quadro de Dislexia do Desenvolvimento, o que pode ser feito para contribuir no desenvolvimento global dessas crianças e adolescentes?
O que Posso Fazer se meu filho é Disléxico?
No livro “Tudo que eu devia saber aprendi no jardim de infância” (1986), de Robert Fulghum, o autor afirma que nas Ilhas Salomão, quando os nativos queriam parte da floresta para fazer agricultura, eles não precisavam cortar as árvores. Simplesmente se juntavam ao redor da árvore que queriam derrubar e começavam a gritar xingamentos e proferir impropérios. Em alguns dias, a árvore secava e morria sozinha. Há várias pesquisas de comunicação entre plantas e dentre elas, destacam-se as de Cleve Backster (1966) que defendia a tese da Biocomunicação (o fenômeno foi apelidado de percepção primária) à qual não é amplamente aceita pela comunidade científica (Moscatelli, 2015). Mas o que tudo isso tem a ver com ajudar meu filho que apresenta a Dislexia? Eu te pergunto: se entre as plantas, pode haver uma interação, uma reação diante do que é dito e proferido, imagine entre nós, seres humanos?
A psicanalista Simone Demolinari (2018) afirma que o que os pais (principalmente as mães) dizem a seu filho pode influenciar no comportamento dele e passar a ser verdade absoluta, determinando seu sucesso ou insucesso no futuro. No livro mais publicado no mundo, a Bíblia sagrada, também encontramos em Eclesiástico as prerrogativas que Deus nos deu para educar e abençoar nossos filhos ao afirmar que “a bênção paterna fortalece a casa de seus filhos, a maldição de uma mãe a arrasa até os alicerces.” (Eclo 3, 11)
Assim, a primeira atitude a ser tomada é ACREDITAR NO POTENCIAL DE SEU FILHO, independente da dificuldade ou do transtorno que ele apresentar. Isso não significa ignorar as suas limitações, os seus pontos fracos, mas sim focar no que é capaz de realizar, nos seus pontos fortes oferecendo a ele total apoio no quer for necessário.
Em seguida, VALORIZAR CADA PEQUENO AVANÇO, por mais banal que pareça ser a você, uma vez que para ele, demandou muito esforço. Essa postura permitirá que ele permaneça motivado e busque cada vez mais, a superação do transtorno. Para isso, é fundamental que as medidas de suporte escolar para contornar a limitação biológica para a adequada aquisição da leitura e escrita, sejam solicitadas pela família, através de parcerias entre ela e a equipe gestora, acompanhando os progressos da criança ou do adolescente ao longo do ano letivo.
É preciso também INCENTIVAR O HÁBITO DE ESTUDO DIÁRIO (permitindo uma revisão no conteúdo estudado na escola) e estimular o GOSTO PELA LEITURA, despertando o interesse por essa atividade que não pode ser vista apenas como um entretenimento, mas sim como uma forma de inclusão no mundo. Há diversas experiências de crianças que desenvolveram o prazer em ler começando por assuntos de seu interesse e depois pelos que fazem parte dos componentes curriculares da escola.
Qual Método mais Eficiente para Meu Filho Disléxico?
Há muitos métodos de alfabetização e como nosso alfabeto é fonêmico (à grosso modo, se apoia nos sons das letras), um dos métodos considerados mais eficientes na alfabetização e na reabilitação da leitura e da escrita, é o Multissensorial, Fônico e Articulatório, segundo estudos da Universidade Stanford EUA.
O método de Orton-Gillingham (aplicado oficialmente nos EUA, Europa e países que se destacam nos quesitos Competências leitoras e Interpretação de texto, em avaliações internacionais), possibilita a associação entre grafemas e fonemas (letras e sons) através da exploração e da integração dos diversos aspectos perceptivos (sentidos) e motores do aluno em processo de alfabetização.
No Brasil, há muitos materiais pedagógicos que exploram esse método. Optei em minha prática clínica, pelos desenvolvidos por Renata Jardini, por quem tenho muita admiração e respeito, e pela coleção de três volumes “Facilitando a Alfabetização” das autoras Maria Ângela Nogueira Nico e Áurea Maria Stavale Gonçalves (ambas da Associação Brasileira de Dislexia – ABD), lançada pela Book Toy em 2016, por oferecerem um ensino explícito, sistemático, gradual e repetitivo sobre a manipulação dos sons. Conhecendo os princípios desse método, é possível desenvolver outros materiais de acordo com a necessidade de cada aprendente.
Vale lembrar que, muito mais importante do que a escolha do método mais eficiente para o desenvolvimento de seu filho, é pensar na influência que suas palavras exercem sobre ele. Se forem negativas e pessimistas, uma vez ditas, podem “matar a árvore” sozinha, sem ao menos utilizar nenhuma arma letal.
Seu filho tem dislexia e está precisando de ajuda? Escreva para mim:
Maria Silvana – ABPp 13265
- Psicopedagoga Clínica – Sinapses
- Psicopedagoga Clínica – AMEE, Santo Antonio de Posse – SP
- Professora de Língua Portuguesa
Email: sinapses.maria.silvana@gmail.com
WhatsApp: 19 98313-9357
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Sensacional, cada dia aprendendo mais com vocês. Obrigada