Casada com Disléxico

Casada com Disléxico

Sou o Professor Pippo, do DislexClub, e neste texto eu quero dividir com você, de coração aberto, como é estar casada com disléxico. Neste artigo eu contei a nossa história, as surpresas da descoberta, os desafios que enfrentamos, as soluções práticas que desenvolvemos e, claro, as alegrias que surgem todos os dias. Se você está casada com disléxico, pensa em alguém que vive com uma pessoa disléxica, é mãe de uma criança que pode ser disléxica ou simplesmente quer entender melhor esse universo, este conteúdo é para você.

Antes de começarmos: este texto nasce a partir das conversas que contei junto com a minha esposa, a Mariana, numa conversa informal e sincera. Nosso objetivo é ajudar, desmistificar e trazer leveza. Ao longo do texto eu vou repetir uma frase essencial para que o tema fique claro: casada com disléxico. Se você está casada com disléxico, leia com carinho — este artigo foi pensado para você.

Sumário da nossa história: onde nos conhecemos e como tudo começou

Eu e a Mariana nos conhecemos num encontro de jovens na igreja. Parecia um lugar improvável, mas foi perfeito. Lembro até hoje de como a primeira aproximação foi atrapalhada: eu cheguei atrasado, fiz piadas e ela, tímida e reserva, não me deu muita bola. Mesmo assim, eu não desisti. Troquei mensagens com amigos em comum, peguei o Instagram dela e mandei aquela mensagem desajeitada de sempre. A resposta veio com um “kakaká” por educação — e eu interpretei isso como um bom sinal. Pouco depois trocamos WhatsApp e começamos a conversar. Foi assim que a nossa história começou.

Nosso relacionamento nasceu com conversas leves, com presentes feitos à mão, com cartas cheias de erros ortográficos que a Mariana achava fofo — e que eu gostei mais ainda por causa da espontaneidade. A partir daí vieram namoro, noivado e casamento. E ao longo desse caminho veio também a apresentação clara: eu sou disléxico. Da minha parte, eu sempre tive o hábito de falar sobre isso com naturalidade. Para a Mariana, foi a primeira vez que ela ouviu falar do termo “dislexia” com profundidade. Ela já tinha ouvido falar de TDAH durante a escola, mas dislexia era novidade.

Primeiras reações: descobrir que é casada com disléxico

Quando eu falei para a Mariana que eu era disléxico, a reação inicial foi curiosidade e vontade de entender. Ela contou que nunca tinha ouvido esse termo em profundidade, apesar da formação acadêmica. A descoberta gerou perguntas, alguns pequenos momentos de estranhamento e, principalmente, um desejo de apoiar. A conversa veio naturalmente: eu expliquei o que é dislexia, contei como isso afeta leitura, escrita e memória de trabalho em algumas situações, e mostrei como eu organizo a minha vida para lidar com isso.

O ponto principal que a Mariana ressaltou foi: não houve julgamento. Ela já tinha percebido meus erros de ortografia nas cartinhas e sempre achou fofos. O que mais marcou foi a compreensão. Ser casada com disléxico, no caso dela, significou entrar num projeto compartilhado de apoio mútuo — e isso foi decisivo para o que viria depois.

O que a descoberta não significa

  • Não significa incapacidade absoluta: ser disléxico não é sinônimo de não conseguir aprender, trabalhar ou ler bem.
  • Não significa que tudo vai dar errado: a dislexia traz desafios específicos, mas não define toda a pessoa.
  • Não significa que o casal está condenado a conflitos: com comunicação, paciência e estratégias, a convivência melhora muito.

Diferenças entre dislexia e TDAH: qual pega mais no nosso dia a dia?

Na nossa convivência ficou claro que nem tudo que parece dislexia é dislexia — e que outros transtornos coexistentes podem influenciar bastante. No meu caso, além da dislexia, eu tenho TDAH. A Mariana apontou algo muito verdadeiro: muitas vezes o que mais a afetava no convívio não era a dislexia em si, e sim o TDAH — a impaciência, a ansiedade, a tendência a ficar muito pilhado quando algo “dá errado” no dia.

Dislexia costuma afetar mais leitura, ortografia, organização de texto e memorização sequencial. O TDAH impacta atenção, impulsividade e regulação emocional. Na prática, isso significa que o que mais tensionava a convivência eram momentos de impaciência e irritabilidade — e não os erros ortográficos. Daí surgiram estratégias para lidar com ambos.

Como identificamos o que era dislexia e o que era TDAH

  • Observação do padrão: erros contínuos em leitura e escrita sugerem dislexia; dificuldade de manter atenção e impulsividade sugerem TDAH.
  • Profissionais: consultas com psicopedagogos e psicólogos ajudam a diagnosticar corretamente.
  • Conversas no dia a dia: abrir o diálogo sobre como cada um vive as dificuldades ajuda a identificar causas e soluções.

Desafios práticos do dia a dia quando se está casada com disléxico

Vou listar os desafios que apareceram para nós e como lidamos com cada um. Se você está casada com disléxico, talvez veja aqui situações parecidas — e algumas ideias para enfrentar isso com leveza.

1. Erros ortográficos e comunicação escrita

Nosso caso: eu escrevia cartas, mensagens e posts com erros de ortografia. Para a Mariana isso sempre foi “fofo”, porque ela sabia da minha dislexia. Mas em contextos formais (contratos, documentos, textos públicos) isso podia ser um problema.

Solução: revisão conjunta. A Mariana, advogada e cuidadosa com textos, me ajuda a revisar documentos importantes. Para os posts e conteúdos do DislexClub, nós fazemos revisões e eu faço as adaptações necessárias para deixar o texto claro — usamos o tempo e as ferramentas certas para isso.

2. Datas e memorização

Eu tinha dificuldade em lembrar datas importantes. Para fixar a data do nosso casamento (16 de outubro) acabei criando uma estratégia: associar números a camisetas e ao número que gosto no futebol. Uso muito a repetição e associações visuais para lembrar. Quando a memória falha, a Mariana sempre está lá com um lembrete carinhoso.

3. Compras e totens de autoatendimento

Algumas rotinas simples podem ser tensas para quem tem dislexia ou TDAH: menus complicados numa tela, totens de autoatendimento, bilhetes com instruções confusas. No shopping, por exemplo, eu fico nervoso com máquinas que exigem leitura rápida.

Solução: dividir tarefas. A Mariana assume momentaneamente essa função, ou nós nos organizamos para fazer isso juntos: eu navegando com calma, ela acompanhando e ajudando quando necessário.

4. Documentação e papelada

No estágio de psicopedagogia dela e em documentos de estágio, havia muita papelada. Leio com mais dificuldade textos longos e cheios de detalhes. A Mariana me ajuda a revisar e eu ajudo nas partes práticas onde posso.

Estratégias que funcionaram para nós

Com o tempo desenvolvemos um conjunto de práticas que reduziram o estresse e aumentaram a qualidade da convivência. Se você está casada com disléxico, considere adotar algumas dessas ideias.

  • Comunicação aberta: falar sobre o que aconteceu, sem culpas, com foco em solução.
  • Divisão de tarefas: cada um assume o que sabe fazer melhor, sem cobranças excessivas.
  • Uso de ferramentas: gravadores, apps de calendário, checklist visual, lembretes e alarmes ajudam muito.
  • Revisões conjuntas: para textos e documentos importantes, pedir apoio em vez de correr risco.
  • Rotinas e rituais: associar hábitos a gatilhos visuais e numéricos (como a minha camiseta 16) facilita memória.
  • Paciência ativa: em vez de esperar que o outro “melhore”, oferecer ajuda prática e treinada.

Alegria, leveza e criatividade: o lado bom de estar casada com disléxico

Ser casada com disléxico traz desafios, sim, mas também uma fonte contínua de criatividade, surpresas e gestos cheios de significado. Eu, por exemplo, sempre gostei de dar presentes que contassem histórias: um quadro pintado em parceria com a Mariana para presentear a sogra, cartinhas, dobraduras e tantas outras coisas feitas à mão.

A dislexia não diminui a capacidade de criar. Pelo contrário: muitas vezes a forma como penso — não linear, com associações visuais e imagéticas — me leva a ter ideias originais. A Mariana sempre admirou essa criatividade. Muitos presentes memoráveis nasceram dessa mistura de carinho e imaginação.

Poliana: o nome que resume um jeito de ver a vida

Quando anunciamos a chegada da nossa filha, escolhemos o nome Poliana. Por quê? Porque o livro “Poliana” ajudou a Mariana a ver o mundo de uma maneira diferente: o jogo do contente, a busca por pequenos motivos de alegria mesmo diante da dificuldade. Para nós, esse nome simboliza uma postura: enfrentar os desafios com um olhar que aprende a ser grato e a encontrar sentido. Se você está casada com disléxico, talvez este exemplo inspire você a pensar em pequenos rituais que transformem momentos difíceis em oportunidades de amor.

Família, filhos e convivência: e se tivermos filhos disléxicos?

Uma pergunta que recebe muito: “Se nós tivermos filhos disléxicos, isso te preocupa?” A resposta da minha esposa foi direta: não. Ela confia que, com as informações corretas, o apoio e as estratégias, é possível oferecer um ambiente de desenvolvimento saudável para qualquer criança. Além disso, estar casada com disléxico significa ter um especialista em casa para orientar o processo — no nosso caso, eu e minha experiência no DislexClub ajudamos muito.

Se você está casada com disléxico e teme pelos filhos, algumas reflexões:

  • Identificação precoce ajuda: quanto antes se detectarem sinais, mais cedo podemos oferecer intervenções adequadas.
  • Apoio psicológico e psicopedagógico são fundamentais: profissionais ajudam a criar rotinas de ensino que respeitem o ritmo da criança.
  • Ambiente acolhedor e sem rótulos: o amor e a expectativa ajustada são mais eficazes que a pressa por resultados.
  • Adaptadores escolares: provas adaptadas e recursos visuais facilitam a aprendizagem e evitam frustrações.

Como preparar a escola e a família

Compartilhe com a escola as características da criança, proponha adaptações e mantenha o diálogo com professores. No nível familiar, crie rotinas de leitura com material adequado (fontes maiores, textos com espaçamento, livros que respeitem o ritmo), e use recursos visuais — mapas mentais, quadros e checklists — para auxiliar a organização.

Conselhos práticos para quem está casada com disléxico

Aqui vai um guia prático, direto e aplicável.

  1. Não confunda erro com intenção: erros ortográficos não são preguiça. São manifestações de um processamento diferente.
  2. Peça ajuda sem culpa: tanto quem é disléxico quanto quem convive com disléxico podem pedir suporte externo (terapia, grupo, mentorias).
  3. Crie rotinas visuais: listas com imagens, calendários com cores e alarmes ajudam a reduzir ansiedade e esquecimento.
  4. Use ferramentas tecnológicas: corretores ortográficos, apps de leitura em voz alta, gravações de áudio e agendadores são aliados poderosos.
  5. Fortaleça a autoestima: valorize competências, celebre conquistas e minimize comparações.
  6. Aprendam juntos: participar de cursos, livros e comunidades (como a comunidade DislexClub) ajuda a criar um vocabulário comum e estratégias práticas.

Comunicação: o coração de qualquer relação em que um é disléxico

Se você está casada com disléxico, a comunicação é um dos pilares que sustentam a relação. Algumas atitudes transformaram nossas conversas:

  • Explicar o que cada um sentiu sem fogos de artifício emocional: descrever o comportamento e o impacto sem rótulos.
  • Negociar soluções: ao invés de criticar, propor passos concretos para melhorar a situação.
  • Reservar tempos para falar de temas importantes sem distrações (sem celular, sem pressa).
  • Usar reforço positivo: quando algo deu certo, celebrar — isso ajuda a repetir estratégias vitoriosas.

Trabalhando juntos: parceria no empreendedorismo

Empreender com o projeto de dislexia foi uma mudança grande na nossa vida. Eu saí de uma estrutura maior para me dedicar a isso, e a Mariana foi um pilar essencial. Ao decidir transformar um projeto pessoal em trabalho, surgiu uma necessidade ainda maior de parceria: ela entrou como sócia no CNPJ, cuida do blog, da produção textual e revisa conteúdos. O sucesso desse arranjo se deu porque cada um tem funções claramente definidas e há confiança mútua.

Se você está casada com disléxico e o casal pensa em trabalhar junto, algumas dicas:

  • Definam papéis claramente: quem cuida da parte criativa? Quem cuida da parte administrativa?
  • Estabeleçam limites: separar a rotina de trabalho da rotina pessoal ajuda a evitar desgaste.
  • Valorizem habilidades: aproveitem aquilo que cada um faz melhor — a técnica da Mariana com textos, a minha fala e criatividade com vídeo.
  • Façam reuniões curtas e periódicas: evitar acumular problemas é uma boa estratégia.

Perguntas frequentes que recebemos sobre estar casada com disléxico

1. Dá para confiar em alguém disléxico em tarefas que envolvem leitura?

Sim. Dislexia não impede confiança. Em tarefas formais, é importante revisar e usar ferramentas. Em muitas áreas, o disléxico oferece habilidades únicas — criatividade, resolução de problemas, pensamento visual — que são valiosas.

2. Como lidar com vergonha ou preconceito social?

Educar é a resposta. Compartilhar o que é dislexia, como ela se manifesta e como se lida com ela. Apoiar o parceiro emocionalmente e colocar limites quando necessário com pessoas que desrespeitam. Buscar comunidades de apoio também ajuda.

3. Como funciona a divisão de tarefas quando a pessoa disléxica é impulsiva?

Negociem tarefas realistas. Use timers, listas e alarmes. Faça pactos temporários: quem assume o pagamento de contas, por exemplo, será responsável por lembrar as datas e demonstrar isso com comprovantes visuais.

4. A dislexia afeta a sexualidade e intimidade do casal?

Em geral, não diretamente. O impacto maior vem das consequências emocionais do estresse diário (cansaço, frustração). Trabalhar a regulação emocional, reduzir culpa e aumentar momentos de afeto são caminhos práticos.

Recursos que recomendamos

Se você está casada com disléxico e quer buscar ferramentas e conhecimento, aqui vão recursos úteis:

  • Comunidades de pais e parceiros de pessoas com dislexia (grupos online e presenciais).
  • Mentoria especializada para disléxicos, pais e professores.
  • Aplicativos de leitura em voz alta e corretores ortográficos avançados.
  • Livros sobre dislexia e sobre relações em contextos de neurodiversidade.
  • Profissionais: psicopedagogos, fonoaudiólogos e psicólogos especializados.

Histórias e exemplos concretos: como enxergamos os pequenos detalhes

Um exemplo prático do nosso cotidiano: a camiseta com o número 16. Eu uso o número 16 nas camisas por vários motivos (futebol, jogos e memorização). Para lembrar a data do nosso casamento (16/10) eu uso a associação 16 e 10 em números. Isso pode parecer bobo, mas é uma estratégia poderosa: sinais físicos e rituais ajudam a codificar memórias quando a lembrança pura falha.

Outro exemplo: as cartinhas antigas da época do namoro. Eu escrevia com erros, a Mariana releia e achava fofo. Essas cartinhas ficaram guardadas como prova de que o amor também é feito de imperfeições. Se você está casada com disléxico, talvez esses detalhes sejam preciosos para manter a ternura no relacionamento.

Quando procurar ajuda profissional

Procure ajuda quando:

  • os conflitos se tornam frequentes e intensos;
  • há muito desgaste emocional sem melhora;
  • você ou seu parceiro sentem dificuldade de realizar tarefas básicas do dia a dia;
  • há sinais de ansiedade ou depressão decorrentes das dificuldades.

Ter um terapeuta de casal e profissionais especializados em dislexia e TDAH pode transformar a dinâmica familiar.

Palavras finais: estar casada com disléxico é um projeto de amor

Se você está casada com disléxico, minha mensagem é uma só: há vida, alegria e aprendizado na convivência. Dislexia traz desafios, mas também traz um jeito diferente de ver o mundo — muitas vezes mais visual, mais criativo e, por isso, repleto de soluções inesperadas.

A chave é simples e prática: comunicação honesta, divisão de tarefas, uso de ferramentas, paciência e celebração. Quando eu e a Mariana olhamos para trás, vemos não só dificuldades, mas também inúmeros momentos de cumplicidade — pinturas feitas juntos, presentes cheios de histórias, a descoberta do nome da nossa filha e a construção de um projeto profissional que une propósito e trabalho em equipe.

Ser casada com disléxico não é um rótulo de sofrimento; é uma condição que pede adaptação, sensibilidade e criatividade. Se você está casada com disléxico, lembre-se: você não está sozinha. Há comunidades, profissionais e pessoas dispostas a aprender. Aqui no DislexClub trabalhamos para isso: apoiar, informar e transformar dificuldades em oportunidades de crescimento.

“Grandes disléxicos nunca desistem.” — Professor Pippo

Se quiser continuar essa conversa, buscar cursos, mentoria ou participar da comunidade que criamos, saiba que estamos aqui para ajudar. A vida a dois com desafios neurodivergentes pode ser cheia de sentido, aprendizado e amor. E se você está casada com disléxico, celebre isso: você faz parte de uma história rica e cheia de possibilidades.

Obrigado por ler até aqui. Se você está casada com disléxico e quiser compartilhar uma história ou dúvida, será um prazer ler e responder. A convivência é uma construção diária — e cada pequeno gesto conta.

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